domingo, 23 de março de 2008


Uma Empresária no Céu!

Muito inteligente...


A executiva bem-sucedida sentiu uma pontada no peito, vacilou, cambaleou.
Deu um gemido e apagou.

Quando voltou a abrir os olhos, viu-se diante de um imenso portal.

Ainda meio zonza, atravessou-o e viu uma miríade de pessoas. Todas
vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas.

Sem entender bem o que estava acontecendo, a executiva bem-sucedida
abordou um dos passantes :

- Enfermeiro, eu preciso voltar urgente para o meu escritório, porque
tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho que fui trazida para cá por
engano, porque meu convênio médico é classe A , e isto aqui está me
parecendo mais um pronto-socorro. Onde é que nós estamos?
- No céu.

- No céu?...

- É. Tipo assim, o céu. Aquele com querubins voando e coisas do
gênero.

- Certamente. Aqui todos vivemos em estado de gozo permanente.

Apesar das óbvias evidências (nenhuma poluição, todo mundo sorrindo,
ninguém usando telefone celular), a executiva bem-sucedida custou um pouco
a admitir que havia mesmo apitado na curva. Tentou então o plano B:
convencer o interlocutor, por meio das infalíveis técnicas avançadas de
negociação, de que aquela situação era inaceitável. Porque, ponderou, dali
a uma semana ela iria receber o bônus anual, além de estar fortemente
cotada para assumir a posição de presidente do conselho de administração da
empresa. E foi aí que o interlocutor sugeriu:

- Talvez seja melhor você conversar com Pedro, o síndico.
- É? E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?

- Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.

- Assim? (...)

- Pois não?

A executiva bem-sucedida quase desaba da nuvem. À sua frente,
imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo, estava o
próprio Pedro. Mas, a executiva havia feito um curso intensivo de approach
para situações inesperadas e reagiu rapidinho:

- Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou uma executiva
bem-sucedida e...

- Executiva... Que palavra estranha. De que século você veio?

- Do 21. O distinto vai me dizer que não conhece o termo "executiva"?

- Já ouví falar. Mas não é do meu tempo.

Foi então que a executiva bem-sucedida teve um insight. A máxima
autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerda em modernas
técnicas de gestão empresarial. Logo, com seu brilhante currículo
tecnocrático, a executiva poderia rapidamente assumir uma posição
hierárquica, por assim dizer, celestial ali na organização.

- Sabe, meu caro Pedro. Se você me permite, eu gostaria de lhe fazer
uma proposta. Basta olhar para esse povo todo aí, só batendo papo e
andando a toa, para perceber que aqui no Paraíso há enormes oportunidades
para dar um upgrade na produtividade sistêmica.

- É mesmo?

- Pode acreditar, porque tenho PHD em reengenharia. Por exemplo, não
vejo ninguém usando crachá . Como é que a gente sabe quem é quem aqui, e
quem faz o quê?

- Ah, não sabemos.

- Headcount, então, não deve constar em nenhum versículo, correto?

- Hã?

- Entendeu o meu ponto? Sem controle, há dispersão. E dispersão gera
desmotivação. Com o tempo isto aqui vai acabar virando uma anarquia. Mas
nós dois podemos consertar tudo isso rapidinho implementando um simples
programa de targets individuais e avaliação de performance.

- Que interessante...

- Depois, mais no médio prazo, assim que os fundamentos estiverem
sólidos e o pessoal começar a reclamar da pressão e a ficar estressado, a
gente acalma a galera bolando um sistema de stock option, com uma campanha
motivacional impactante, tipo: " O melhor céu da América Latina".

- Fantástico!

- É claro que, antes de tudo, precisaríamos de uma hierarquização de um
organograma funcional, nada que dinâmicas de grupo e avaliações de perfis
psicológicos não consigam resolver.

- Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a
definir as estratégias operacionais e estabeleceríamos algumas metas
factíveis de leverage, maximizando, dessa forma, o retorno do investimento
do Grande Acionista... Ele existe, certo?

- Sobre todas as coisas .

- Ótimo. O passo seguinte seria partir para um downsizing progressivo,
encontrar sinergias high-tech, redigir manuais de procedimento, definir o
marketing mix e investir no desenvolvimento de produtos alternativos de
alto valor agregado. O mercado telestérico por exemplo, me parece
extremamente atrativo.

- Incrível!

- É óbvio que, para conseguir tudo isso, nós dois teremos que nomear um
Board de altíssimo nível. Com um pacote de remuneração atraente, é claro,
coisa assim de salário de seis dígitos e todos os fringe benefits e
mordomias de praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenho
certeza de que você vai concordar comigo, Pedro.
O desafio que temos pela frente vai resultar em um turnaround radical.

- Impressionante !

- Isso significa que podemos partir para a implementação?

- Não. Significa que você terá um futuro brilhante se for trabalhar com
o nosso concorrente. Porque você acaba de descrever, exatamente, como
funciona o Inferno...

Max Gehringer
Revista Exame